quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Cena Gótica Brasileira #5 - Literatura tradicional Gótica

Olá minhas Ladys e Lords, como creio que perceberam que essa é mais uma postagem do meu projetinho sobre a cena Gótica Brasileira e hoje resolvi dar um paradinha com as bandas, que já foram duas, e falar um pouco sobre a questão da literatura gótica em nosso país.
Nomes bastante conhecidos e pouco valorizados, que poucos se interessam em estudar a vida e entender o motivos de tais poesias e histórias um tanto sombrias, que de fato acabei me apaixonando no período de estudo da Segunda Geração do Romantismo no Brasil, ou Ultra Romantismo como alguns chamam!









Mesmo sendo caracterizada por valores individuais, a Cultura Obscura abriga diversas manifestações artísticas comuns a outras culturas. A Literatura é uma das expressões mais utilizadas. É através da composição poética, por exemplo, que se confrontam os temores e se revelam os mais profundos sentimentos e desejos da alma. É, também na literatura, que se encontra uma definição estética e ideológica sobre os vários aspectos que compõem a cultura obscura.
Mais precisamente, podemos citar o Romantismo como a principal referência da Cultura Obscura. Surgido no final do século XVIII, como uma reação aos ideais Iluministas, o Romantismo traz como principais características a potencialização das emoções.





Último soneto
Já da noite o palor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!

Do leito, embalde num macio encosto,
Tento o sono reter!... Já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece...
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!

O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.

Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Volve ao amante os olhos, por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!
O poema que você leu agora é de autoria de Álvares de Azevedo, principal representante da segunda geração do Romantismo brasileiro. Foi exatamente assim que se iniciou a prosa e a poesia gótica, cujo conteúdo temático era completamente diferente. Com o passar do tempo tal tema passou a despertar o interesse de escritores como Gonçalves Dias e José de Alencar. A literatura indianista deu lugar à literatura soturna e melancólica dos escritores ultrarromânticos.
O sofrimento, a dor existencial, escuridão, angústia e agonia, o amor sensual e impossível, idealizado à perfeição inexistente... foram os principais temas da literatura produzida durante a segunda fase do Romantismo. A publicação do livro Poesias, de Álvares de Azevedo, em 1853, foi considerada o marco inicial da poesia gótica. Outros escritores também fizeram do ultrarromantismo seu projeto literário, entre eles Fagundes Varela, Junqueira Freire e Casimiro de Abreu, fortemente inspirados pelo inglês Lord Byron, pelo italiano Giacomo Leopardi e pelos franceses Alphonse de Lamartine e Alfred de Musset, que por sinal são autores de poemas Maravilhosos (Sou fã de Alphonse de Lamartine e Lord Byron).



Visões da noite
Passai, tristes fantasmas! O que é feito
Das mulheres que amei, gentis e puras?
Umas devoram negras amarguras,
Repousam outras em marmóreo leito!

Outras no encalço de fatal proveito
Buscam à noite as saturnais escuras,
Onde, empenhando as murchas formosuras,
Ao demônio do ouro rendem preito!

Todas sem mais amor! sem mais paixões!
Mais uma fibra trêmula e sentida!
Mais um leve calor nos corações!

Pálidas sombras de ilusão perdida,
Minh’alma está deserta de emoções,
Passai, passai, não me poupeis a vida!
A poesia acima é de Fagundes Varela.  Nunca antes a poesia e a prosa brasileira haviam experimentado assuntos que alcançassem um grau tão elevado de subjetivismo, percorrendo temas como o amor e a morte, a dúvida e a ironia, o entusiasmo e o tédio. Houve uma quebra drástica de padrões literários. Mas tal fase veio com um outro objetivo por trás das belas palavras: afrontar o materialismo e o racionalismo burgueses, desbravando o subconsciente, apresentado temas pouco comuns que foram capazes de causar repulsa e estranhamento da crítica literária e do público.
O sentimentalismo e a morbidez estão entre os aspectos que definem a estética ultrarromântica. Na obra de Álvares de Azevedo, considerado o poeta mais importante da geração, é comum encontrar expressões que transportam o leitor para um universo mórbido e depressivo. É importante observar também o contraponto estabelecido com a poética de Augusto dos Anjos, tido como o mais original dos poetas brasileiros, aquele cujo gosto por termos científicos e pela escatologia influenciaram sobremaneira os poetas ultrarromânticos.




Solitário
Como um fantasma que se refugia 
Na solidão da natureza morta, 
Por trás dos ermos túmulos, um dia, 
Eu fui refugiar-me à tua porta!

Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos contorta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!

Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele, 
- Velho caixão a carregar destroços -

Levando apenas na tumba carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos.

(por Augusto dos Anjos)
Assim, mesmo havendo um conceito de que, geralmente, a Literatura Gótica é baseada na prosa, enquanto o ultra-romantismo está fundamentado na poesia, a cultura obscura é suficientemente ampla para abrigar ambos estilos de composição, e ainda absorver outros gêneros que possam refletir sua alma e personalidadeAs obras Noite na taverna (contos) e Macário (peça teatral) representam a produção gótico-romântica em prosa; ambas de Álvares de Azevedo.

Nos dias de hoje a tradicional literatura gótica é estuda e pouco cultuada. é difícil encontrar Saraus poético e encontros literários para tal, e em tais encontros a poesia ainda é vista com maus olhos pelo cunho um tanto mórbido. Até os dias de hoje costumam colocar nos livros didáticos uma ligação inexistente com a idealização do Demônio cristão, o que gera um preconceito maior do que já tem. Lembro que na época da escola, quando estávamos estudando o ultra romantismo tive que ajudar na aula de literatura desmistificar esse "pacto", e como estudava em escola de freiras o trabalho prático que a professora planejava (um sarau gótico na escola) foi completamente impedido. Um absurdo! Até por que no fim das contas era assunto de prova e uma prática ajudaria bastante na fixação do assunto para quem não entendeu inicialmente o cunho artístico e o valor histórico dessa contribuição para a cultura do no nosso país, mas principalmente para as subculturas.

Bom gente é isso. Espero que tenham gostado!



Beijos e até a próxima postagem! :*

Fontes :
† http://portugues.uol.com.br/literatura/alvares-azevedo-casimiro-abreu---ultrarromanticos-por-excelencia-.html
† http://www.spectrumgothic.com.br/literatura.htm
† Conclusões próprias ao longo dos anos.

4 comentários:

  1. Da listinha conheço apenas o Alvares de Azevedo, inclusive tenho dois livros deles, o Noite da Taverna e A Lira dos 20 Anos... Amo <3

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    1. Adoro Alvares de Azevedo e também tenho esses dois livros ♥. Mas é esse um dos problemas, como Alvares foi quem deu inicio a fase do Ultra Romantismo, os outros que têm poesias e contos tão legais quanto ficam completamente esquecidos no ensino fundamental/médio kkkkk.

      Obrigada pela visitinha amora ♥ :*

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  2. Eu sou formanda em letras portugues e ingles, estou fazendo um livro com características desses autores, eu amo a segunda geração do romantismo. Vocês realmente são incríveis, mas senti falta do Goethe, os sofrimentos do jovem Werther é ultra.....

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    Respostas
    1. Olá Eli, então acho q vc não leu direito o titulo da postagem, estou falando apenas de alguns autores Brasileiros, Goethe é Alemão, e por sinal é maravilhoso. Mas quis enfatizar aqui a valorização do ultra romantismo no Brasil, pq sempre os autores estrangeiros são super valorizados, entende?!
      Mas agradeço a visita, e fico feliz q esteja fazendo um livro com essas características, falta um certa valorização no mercado!
      Bjs e até mais!

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